domingo, 29 de janeiro de 2012

Aposentado salva égua que seria condenada à morte por causa de deficiência rara

Há mais ou menos três anos, Cláudio Lages da Silva não imaginava que “Mocinha” entrasse em sua vida e a mudasse tão radicalmente. A história, que se desenrola em Botuporã, cidade com pouco mais de 11 mil habitantes no centro-oeste baiano, é sobre o nascimento de uma potra com uma deficiência congênita rara, que fez com que um dos seus membros dianteiros não se desenvolvesse. A chance de um animal nascer e chegar à fase adulta com esse problema é praticamente um milagre, uma em milhões.

Respeito ao ser vivo, fé e compaixão motivaram Cláudio a salvar o animal (Foto: Juraci Magalhães de Souza/Arquivo Pessoal)
Pior, em um lugar onde quase não há assistência veterinária, nascer dessa forma pode ser uma sentença à morte. Normalmente, principalmente no Nordeste, os cavalos são explorados como animais de trabalho e sem essa função – além de precisar de muitos cuidados – o tutor não via uma utilidade ou a chance de ela sobreviver. Mas essa não era a opinião de Cláudio que, ao ficar sabendo que o destino de “Mocinha” estava traçado, pediu ao tutor para doá-la, já que ele gostava de animais e não aceitava que um animal devia ser condenado à morte porque nasceu com uma deficiência.
Ele conseguiu levá-la, mas essa pequena égua ainda teria mais sofrimento pela frente. Sua mãe, colocada para trabalhar dias depois da cria, sofreu uma hemorragia e não resistiu. Sem o leite materno as chances da potra diminuíam sensivelmente, mas Claudio teve fé: “Eu colocava leite de vaca em uma bacia e dava para ela duas vezes ao dia. Cuidei como se fosse uma criança, com muito carinho. Acho que ela sabia disso”, afirma. De fato, a atitude dele fez a diferença, já que talvez com a mãe a potra não tivesse a mesma chance. “Existe uma lei natural de sobrevivência dos mais fortes na natureza. Com a mãe ela não teria essa assistência que precisava e talvez não a acompanharia para mamar. A atitude a salvou”, explica o veterinário Carlos Alberto Hussni, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp de Botucatu.
A égua "Mocinha" e Cláudio Lages da Silva. (Foto: Juraci Magalhães de Souza/Arquivo Pessoal)
O tempo passou, a potra começou a crescer e a se adaptar àquela situação física, mas as dificuldades eram grandes. Claudio dependia de um mangue de um amigo para deixar “Mocinha” e seus recursos financeiros vêm de uma pequena aposentadoria, que também mantém a família e os outros animais. Mesmo assim ela não foi deixada para trás. “Ele é conhecido pelo seu amor aos animais. Sempre ajuda os bichinhos, principalmente aqueles que ninguém quer, por estarem doentes ou judiados”, explica Juraci Magalhães de Souza, amigo do aposentado.
Para dar uma vida melhor a “Mocinha”, porém, seria preciso espaço adequado e sua chance era pedir ajuda a quem realmente poderia fazer algo, ninguém mais do que o ex-presidente Lula. “Na época ele era presidente e escrevi contando a história dela. Como ele é do Nordeste achei que entenderia. Pedi a sua ajuda para arrumar um pedaço de terra para que eu pudesse ter e dar uma vida digna a ela. E ele me respondeu.” Em 2009, a correspondência foi respondida pelo diretor de Documentação Histórica, Claudio Soares Rocha, informando que o caso tinha sido encaminhado para o Ministério de Desenvolvimento Agrário, e por lá ficou.

Fonte - http://www.anda.jor.br/29/01/2012/homem-salva-egua-com-deficiencia-rara-de-eutanasia