segunda-feira, 30 de agosto de 2010


ANIMAIS DOENTES ou já agonizando foram encontrados pelo CRMV no Centro de Zoonose do Crato, sem veterinários
ANTÔNIO VICELMO

DIÁRIO DO NORDESTE 26/8/2010


Ambiente sujo e insalubre, sem veterinários junto aos animais, foi constatado na Zoonose do Crato

Crato. O Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) autuou o Centro de Zoonoses do Crato por falta de um diretor técnico. A inspeção identificou outras irregularidades, entre as quais falta de registro, animais agonizando sem a presença de veterinário para realizar a eutanásia (morte serena, sem sofrimento), funcionários não recebem insalubridade, mau cheiro e sujeira. A autuação foi feita pelo diretor do CRMV, Arturo Carvalho, que fiscalizou dois centros de zoonoses, de Crato e Juazeiro, e nos matadouros públicos da região.

O diretor administrativo do Centro de Zoonoses, Paulo Henrique Monteiro, explicou que a ausência de um diretor técnico se deve ao pedido de demissão do ex-diretor, Eldon Menezes. Ele garantiu que, ainda esta semana, a secretária de Saúde do Crato, Nizete Tavares, nomeará um veterinário que responderá pela parte técnica do Centro de Zoonoses. Quanto à falta de um veterinário, no momento da inspeção, Monteiro esclareceu que o Centro tem dois veterinários que se revezam no trabalho. Um deles estava de licença, conforme atestado médio apresentado ao fiscal do Conselho.

A direção apresentou também os anestésicos, Sedomin e Clortamina, que estão sendo utilizados na eutanásia dos animais, bem como um documento assinado por veterinários e representantes de entidades de proteção aos animais, comprovando que os animais estão sendo sacrificados, de acordo com as exigências da legislação.

Outras eventuais falhas apontadas pelo Conselho como, por exemplo, a utilização de depósitos de plásticos para colocação de alimentos, estão sendo corrigidas, segundo garante o diretor administrativo.

Matadouros

A inspeção foi estendida também aos matadouros da região. De acordo com Arturo, o matadouro que apresentou maiores problemas foi o de Iguatu, pela absoluta falta de higiene. Além da falta de estrutura, foram observados gatos comendo restos de carne, piso e azulejos estragados, trilhos aéreos enferrujados, funcionários sem equipamento de proteção e sem exames de saúde e sujeira. Estas irregularidades, segundo o fiscal, serão levadas ao conhecimento do Conselho para que sejam tomadas as providências. No Cariri, a maioria do gado para o consumo é abatido na "moita", isto é, de forma clandestina. Nas pequenas cidades da região não existe matadouro. Em Nova Olinda, por exemplo, o fiscal flagrou o abate de gado no oitão de uma casa. O prefeito Domingos Sampaio justificou que o novo matadouro não está funcionando porque faltaram recursos para a compra de equipamentos. Em Santana do Cariri, não tem matadouro público. O fiscal sugeriu ao prefeito Pedro Linard que o gado para o consumo da população fosse abatido na vizinha cidade de Nova Olinda.

O fiscal elogiou o atual matadouro público de Brejo Santo, que havia sido interditado por determinação do Ministério Público, por absoluta falta de condições de higiene. O atual prefeito, Guilherme Landim, segundo Arturo, cumpriu todas as exigências. "Hoje o matadouro é um exemplo de organização", afirmou. O representante do Conselho reconhece, entretanto, que a maioria dos prefeitos tem condições de construir um matadouro que atenda às exigências da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Um relatório completo será entregue ao CRMV com todas as irregularidades encontradas no Interior, inclusive o exercício ilegal da profissão de médico veterinário, que é considerado como contravenção penal. Somente veterinários e zootecnistas, devidamente habilitados, podem exercer as prerrogativas profissionais que as Leis Federais 5.517/1968 e 5.550/1968 determinam, adverte o representante do CRMV.

Enquete
Prática ilegal

Arturo Carvalho
Diretor do Cons. Regi. de Medicina Veterinária
No Cariri, a maioria do gado para o consumo é abatido na "moita", isto é, de forma clandestina, o que é ilegal

Paulo Henrique Monteiro
Dir. Adm. do Centro de Zoon.
Todas as eventuais falhas estão sendo corrigidas. Esta semana, será nomeado o diretor técnico do local

Ricardo Martins
Médico Veterinário
O Centro de Zoonoses do Crato está cumprindo as exigências que a Lei determina nos seus procedimentos diários

MAIS INFORMAÇÕES
Centro de Zoonoses do Crato
Avenida Thomaz Osterne, S/N
Região - Cariri
(88) 3521.2698

Antônio Vicelmo
Repórter

CÂMARA DE GÁS
Denúncia teve repercussão mundial

Crato. As denúncias contra irregularidades no Centro de Zoonoses do Crato tiveram início há dois anos. No dia 9 de setembro de 2008, o Diário do Nordeste publicou, reportagem exclusiva, denunciando que os cães apreendidos pelo Centro de Zoonoses eram sacrificados numa câmara de gás, o mesmo processo utilizado pelos nazistas para exterminar os judeus na segunda guerra mundial. Os animais morriam após injeção de gás carbônico, numa câmara hermeticamente fechada. O gás era produzido por um motor Volkswagen, cujo cano de escape era interligado a câmara, um cubículo de apenas 1,5m quadrado. A reportagem ganhou repercussão internacional.

O método foi questionado pela presidente da União Internacional Protetora dos Animais, no Estado do Ceará (Uipa), Geuza Leitão, com base na resolução nº 714, de 20 de junho de 2002, do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). Ela disse que a câmara de gás foi abolida. Com a repercussão da matéria, o modo ilegal de abater os cães foi abolido. Os cachorros passaram a ser sacrificados com injeções de cloreto de potássio, antecedida por anestesia geral.

O método cruel de sacrificar os animais teve repercussão mundial. Organizações internacionais de proteção aos animais produziram um abaixoassinado eletrônico e, por meio da internet, mais de mil e-mails foram enviados ao jornal, protestando contra a forma de eutanásia praticada pelo Centro de Zoonoses do Crato.

A repercussão foi objeto de outra reportagem que deu destaque ao protesto da Organização Internacional de Proteção dos Animais (Oipa), ONG sediada em Milão, na Itália, que publicou carta na internet contra o modo como era feita a eutanásia dos cães no Centro de Zoonoses do Crato, na região do Cariri. Defensores de animais foram convocados a assinar o abaixoassinado eletrônico.

Repúdio

O protesto teve como destinatários o Ministério Público do Estado do Ceará, a Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Ceará, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), o Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) e a Prefeitura do Crato, além do jornal. O texto repudiava o método da câmara de gás carbônico para o sacrifício dos cães e pedia que os centros de controle de zoonoses sejam impedidos de promover a morte de animais sãos.

A Oipa classificou o sacrifício dos cães na Câmara de Gás como um "método horrível". Advertiu que "é importante que as pessoas entendam que os animais não são objetos, são seres vivos que merecem amor e respeito. Gostaria de expressar minha grande contrariedade quanto ao terrível fato que está acontecendo na cidade de Crato